domingo, 22 de maio de 2011

Revival




Você arrancou um pedaço do meu coração. Você me feriu de um jeito que eu nunca imaginei ser possível. Você estragou uma parte de mim que ninguém mais vai conseguir consertar. E agora você está dentro da minha casa, sentado no meu sofá. E, de alguma maneira, isso parece o certo. Eu estou feliz com a sua presença, parece que você esteve ali o tempo todo. Eu não sinto as cicatrizes doerem, eu não me lembro de você ter me machucado. Tudo muito natural, até eu ir pra outro cômodo e ter que chamar você pelo nome. Tive que respirar fundo pra conseguir dizer seu nome em voz alta. Foram apenas alguns segundos de pânico. Você me responde, volto a ficar bem. A situação toda volta a parecer natural. A noite foi perfeita. Acordo no outro dia e você está ali, dormindo ao meu lado. Eu me sinto bem.



Vou trabalhar e fico com um sorriso idiota no rosto o dia inteiro, como acontece quando estou extremamente bem humorada. Eu sou uma imbecil, eu penso, sem parar de sorrir.



O meu estado de idiotice termina e eu fico tentando entender como foi que você apareceu ali. Como eu deixei que isso acontecesse? Eu jurei que isso não ia acontecer. Na primeira vez eu aceitei sair com você porque eu havia concluído que não tinha a menor chance de acontecer qualquer coisa. Há meses que você tentava falar comigo e eu ignorava. Há meses que você me chamava pra sair, dizendo que queria retomar o contato. Deve ter sido uma de suas resoluções de ano novo, não sei bem. Eu fui voltando a conversar como uma pessoa civilizada, até que um dia você voltou a me chamar pra sair e eu, automaticamente, aceitei. Aceitei porque eu não queria você nem com um milhão de dólares junto. Aceitei porque eu sairia como sua amiga, e só. Eu não sei se foi o champanhe. Deve ter sido o champanhe. A festa estava lotada, eu estava me divertindo com as minhas amigas e você também estava lá, parecendo se divertir. Você me disse coisas que eu não lembro direito. Culpa do champanhe, certeza. Não sei a quem atribuir a culpa pela segunda vez. Nem pela terceira.



O dia acabou e fiquei pensando em como a gente podia ter dado certo. Podia dar certo porque nós dois somos errados, e você sabe disso. E eu culpo você. Culpo por não ter tentado mais. Parece que você nunca tenta. Culpo você por ter estragado tudo de uma maneira tão grande, que não tem mais volta. Culpo você por me fazer lembrar o que você fez depois que acabou. Culpo você por me lembrar que eu guardo mágoas que, possivelmente, carregarei pra vida toda e isso me torna uma pessoa pior.



E eu penso tudo isso com uma nostalgia tão grande que dói meu peito, fecha a minha garganta e embrulha meu estômago. Numa nostalgia tão grande que tenho vontade de voltar no tempo e consertar coisas que já nasceram estragadas. E então eu lembro que ontem mesmo você estava confortavelmente instalado no meu sofá. E que isso continua parecendo absurdamente normal.

5 comentários:

Deni disse...

Faz quase uma hora que eu penso em alguma coisa pra comentar. Aí vi que é ridículo tentar... por causa do primeiro parágrafo, e do último, e de tudo isso... aí eu penso no quanto eu te entendo porque é tudo tão igual, e só consigo dizer a idiotice que mais se encaixa e me sai um "tamo junto". Tamo junto, por todas as razões que a gente sabe.

Ju disse...

Fiquei arrepiada aqui, porque já senti tudo isso que tu descreveu de forma tão sincera aqui...parece que eu estava me lendo uns anos atrás! é um misto de alegria com culpa, uma coisa louca que não dá pra entender! A gente não se orgulha da fraqueza e, ao mesmo tempo, comemora a "conquista". Precisamos nos reunir urgente lulus!

Julia disse...

Sim, sou dramática, beijos.

Maria Carolina disse...

O texto é tão, tão, tãooo triste não somente porque a Júlia é "dramática" mas, porque qualquer coisa que se diga parece que "vai ser pior". Dá uma vontade de ser solidariamente burra e xingar muito o algoz, dizer que ele é cruel, insensível, egoísta ou feio...sei lá..qualquer coisa que possa ajudar, mas ele já está no sofá e isso parece normal....Concordo com a Dê...TAMU JUNTO!

Marcelo disse...

Às vezes queremos a razão acima da emoção, parece mais racional, mas quem domina isso? Certo que estoura em algum momento da vida...
Solução? Cada um vai encontrar a sua e isso faz parte do que seremos no futuro. Pensar assim me conforta um pouco nessas situações...