terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Martha Medeiros

Enquanto o meu próximo post não fica pronto, vou deixar aqui um texto da Martha Medeiros, autora que, imagino eu, todas nós, Lulus, adoramos. Essa crônica foi publicada no jornal Zero Hora de domingo, dia 18 de janeiro. Imagino que a maioria dos nossos leitores não viu porque estava em alguma formatura, ou se formando, ou de ressaca de alguma formatura do dia anterior.

Martha Medeiros é Martha Medeiros! E eu sou fã.
Enfim, espero que gostem da leitura. Aproveitem!

AS CONTRADIÇÕES DO AMOR

"Eu estava quieta, só ouvindo. Éramos eu e mais duas amigas numa mesa de restaurante e uma delas se queixando, pela trigésima vez, do seu namoro caótico, dizendo que não sabia por que ainda estava com aquele sequelado, et cetera, et cetera. Estava planejando terminar com o cara de novo, e a gente sabia o quanto essa mulher sofria longe dele. Eu estava me divertindo diante desse relato mil vezes já escutado: adoro histórias de amor meio dramáticas. Foi então que a terceira componente da mesa, que é psicanalista, disse a frase definitiva: "Eu, se fosse você, não terminava. Às vezes ficamos mais presas a um amor quando ele termina do que quando nos mantemos na relação".

Tacada de mestre.

A partir daí, começamos a debater essa inquestionável verdade: em determinadas relações, ficamos muito mais sufocadas pela ausência do homem que amamos do que pela presença dele. Creio que vale para ambos os sexos, aliás. Um namoro ou casamento pode ser questionado dia e noite: tem futuro? Será que vou segurar a barra de conviver com alguém tão diferente de mim? Será que passaremos a vida assim, às turras? Óbvio que não há respostas para essas perguntas, elas são feitas pelo simples hábito de querer adivinhar o dia de amanhã, mas a verdade é que mesmo sem certificado de garantia, a relação prossegue, pois, além de dúvidas, existe amor e desejo. E isso ameniza tudo. Os dois estão unidos nesse céu e inferno. Até que um dia, durante uma discussão, um dos dois se altera e termina tudo. Alforria? Nem sempre. Aí é que pode começar a escravidão.

Nossa amiga queixosa, a da relação iô-iô, perdia o rumo cada vez que terminava com o namorado. Aí mesmo é que não pensava em outra coisa. Só nele. Não conseguia se desvencilhar, mesmo quando tentava. Todas as suas atitudes ficavam atreladas a esse homem: queria vingar-se dele, ou fugir dele, ou atazaná-lo - cada dia uma decisão, mas todas relacionadas a ele. Só quando reatavam (e sempre reatavam) é que ela descansava um pouco desse stress emocional e se reconciliava com ela mesma.

Eu nunca havia analisado o assunto por esse ângulo. Sempre achei que a sensação de asfixia era derivada de uma união claustrofóbica e a sensação de liberdade só era conquistada com o retorno à solteirice. Mas o amor, de fato, possui artimanhas complexas.

Minha amiga finalmente terminou sua relação tumultuada e hoje está vivendo um casamento mais maduro e sereno. Aquele nosso papo foi há alguns anos, mas nunca mais esqueci dessa inversão de sentimentos que explica tanta angústia e tanta neura. Por que temos urgência em abandonar um amor pelo fato de ele não ser fácil? Quem garante que sem esse amor a vida não será infinitamente mais difícil? Às vezes é melhor uma rendição do que fugir de um amor que não foi vivido até o fim. Foi isso que nossa amiga psicanalista quis dizer durante o jantar: não antecipe o término do que ainda não acabou, espere a relação chegar até a rapa, e aí sim."

19 comentários:

Julia disse...

Grande Martha Medeiros.

Eu fujo de relações doentias e de dependência. Mas postei isso pq, de alguma forma, serve de reforço pra minha teoria de que "os homens preferem as psicóticas".

E também porque a frase da chamada significa muito pra mim, dessa história de cair fora pq é difícil. Não no sentido que ela usa no texto, pq odeio neurose e desisto mesmo. Mas de outras dificuldades, a frase assim, solta, eu gosto.

E vocês? Se identificaram? Identificaram alguém? O que acham?

Paula disse...

Quando vocês lêem "casamento maduro e sereno" não dá um frio na espinha? Ui, que medo!
acho que tô ficando louca, mas tenho medo de "casamento maduro e sereno". Acho que tenho medo de casamento... não tenho certeza. Não, acho que não tenho medo, não. hm.
Acho que tô numa fase psicótica...


Bom, piadas idiotas de lado, eu vou dizer que às vezes me parece que essas pessoas precisam desse tipo de emoção/stress pois tem medo da rotina pacata, "madura e serena". Pois confundem isso, a rotinha pacata e serena, com falta de amor - que essas pessoas só caracterizam como verdadeiro quando há crises de ciúmes, arranca-rabo, fiascos, enfim. Toda essa parafernalha que é a paixão fora da casinha.
Mas como estou com sono, meus pensamentos não estão claros sobre esse assunto.
Prometo que, quando eu acordar, escrevo direito.
Já volto.

zzzz

Paula disse...

como eu não posso dormir no trabalho, eu voltei.

Ando escrevendo confusamente.

Julia disse...

Paula, acho que o sono não te atrapalha, não... eu entendi o que tu escreveu. Se bem que também estou com sono... hummm...

Mas enfim, concordo qdo tu diz q essas pessoas confundem o 'pacato e sereno' com falta de amor. Só pode ser essa a explicação!!! Aliás, tá aí um tema pra um novo post: "os homens preferem as psicóticas". Quem nunca foi 'trocada' por uma psicótica? Ou quem nunca teve um namorado cuja ex era psicótica? A não ser que vc tb seja psicótica, acredito que já passou por isso!

Carol disse...

eu acho esse assunto meio complicado...
uma relação doentia não pode ser saudável, por mais que haja amor. Não pode ser pior do que se separar, por mais difícil que possa parecer.
O problema na verdade é a maneira como cada um se relaciona. Tem gente contida, gente escandalosa que faz loucuras de amor, cambaleando na tênue linha do lindo e do ridículo, e por aí vai...
então, sei lá!uihahuiauiahaa
tá muito bom o texto, mas eu sinceramente não concordo com o fato de se manter na relação até a "raspa do tacho", embora eu já tenha feito isso (ou pelo menos tentado até chegar ao ponto dele acabar)

O Primo Distante disse...

Eu acho q a Paula não é psicótica! As vezes eu queria q ela soltasse até um pouco a psicose dela! heheheh!! Mas eu não prefiro as psicóticas de jeito nenhum!

Julia disse...

Claaaaaro, Cadu! Eu sei que homens sensatos não preferem as psicóticas... mas são os sensatos!
E essa minha frase é uma generalização, baseada na célebre "os homens preferem as loiras", coisa que tb não concordo. Não somente por ser morena, hehehe, mas por tb achar que cada um gosta de uma coisa, e homem gosta mesmo é de mulher, independente da cor do cabelo.

(comentário totalmente desvirtuado do assunto!)

Rafa disse...

Casamento maduro e sereno deve ser aquele de propaganda de margarina, “idealizado”. Todos de branco, acordando felizes, o suco de laranja já pronto na mesa, filhos pacatos, cachorro que não bagunça, o selinho antes de ir pro trabalho; essas coisas tão aprazíveis... Também lembra casamento sem sexo, mas acho que ela só quis dizer que amiga amadureceu e arrumou uma relação menos conturbada (espero).

Quanto à polêmica, se a relação já ta desgastada parece meio inútil ficar prolongando a agonia, uma hora ela ia ter que se decidir entre continuar se lamentando junto dele ou se livrar dessa obsessão e arrumar outra coisa pra se preocupar.

Julia disse...

Em temp - esqueci de dizer que a chamada dizia assim:
"Por que temos urgência em abandonar um amor pelo fato de ele não ser fácil? Quem garante que sem esse amor a vida não será infinitamente mais difícil? Às vezes é melhor uma rendição do que fugir de um amor que não foi vivido até o fim."

Essa foi a 'frase' a que me referia lááá no primeiro comentário.

Rafa disse...

Ah e as psychos tem seu lado divertido, mas tudo tem limite. Essas que ligam no sábado à noite pra ver se tu não saiu mesmo; que quando vocês dão um tempo dá xilique se te vê conversando com outra; que enxerga olhares teus pra diversas gurias - olhares inexistentes (ok, sometimes...); aí até vai. Hmm, parece que descrevi só uma criatura com ciúmes excessivo (?). Pensando bem, acho que eu gosto é de ciumentas e só...

Julia disse...

Olha o Rafa entrando pro coro dos caras que preferem as psychos!!!

=)

p.s.: sim, Rafa, tu descreveu uma criatura psycho!

Rafa disse...

Hahaha

Sim, Júlia... quem vê de fora analisa melhor a situação. A quem eu tava tentando enganar!? =(

Bom, pelo menos não estou sozinho e dou respaldo pra tua teoria =)

Rafa disse...

Julia*

O Primo Distante disse...

Eu preciso confessar que tenho um certo preconceito com a Martha Medeiros, exatamente por achar que ela é certinha demais. E explico isso, porque ela prega um mundo que ela não vive. Ela é burguesa demais para mim. hhehehehehe. Mas esse post ta interessante pelos comentários e por fazer pensar mesmo nesse lance de relação. Quando ele deve acabar? É estranho isso, porque conheço muuuuuuita, mas muuuuuuuita gente que tá sempre reclamando do seu relacionamento, e sempre pensei, porque essas pessoas simplesmente não fazem o que é melhor para elas e simplesmente cada um vai para o seu lado. Isso me lembra um filme que vi chamado Closer, onde o personagem do Clive Owen diz assim pro personagem do Jude Law " ela (personagem da Julia Roberts) não quer ser feliz.", daí o Jude Law faz uma cara "como assim, todos querem ser feliz", aih o Clive Owen sabiamente diz "Os depressivos não querem ser feliz. Eles precisam de desculpa para sua depressão". Acho que isso tem um pouco a ver com esse assunto. Como sabemos o que é melhor para cada um. E se o que a criatura quer é algo que alimente a sua infelicidade. Eu conheço pessoas assim. Que se alimentam de pequenez, de infelicidades. Sei lá porque, se é para desviar a atenção da falta de sentido que essas pessoas tem em suas vidas. Mas enfim, antes eu achava que todas as pessoas mereciam coisas boas, hoje eu acho que todas as pessoas merecem o que elas querem.
(que comentário bíblia esse)

Julia disse...

Cadu, o filme Closer é mto bom... mostra bem as complicações dos relacionamentos. Aliás, uma vez meu terapeuta mencionou esse filme numa sessão, dizendo algo como "já viu o filme closer? relacionamentos são bem assim mesmo".

Anyway... também conheço muita gente que fica amarrada em relacionamentos que não as fazem felizes. Sei lá pq! Se sou eu, chuto o pau da barraca! Às vezes me arrependo, mas fazer o q, se na hora aquilo não estava me fazendo feliz??? O lance do post é pensar sobre isso, sobre como as pessoas reagem de maneiras diferentes às mesmas situações. Por exemplo, dificilmente (pra não dizer nunca) alguém vai me ver dando uma de psycho, ou fazendo cenas, ou dando escândalos, ou ficando mto tempo numa relação com alguém que me faz infeliz.

Mas é a vida... cadum, cadum!

Dia de posts bíblias, esse hoje, pelo visto.

O Primo Distante disse...

As vezes eu tenho muita preguiça de escrever, mas quando saio escrevendo é um lance meio Chico Xavier, sabe, meio psicografado. Daí quando vou ler, penso " putz, qta coisa que escrevi, será que o pessoal vai entender o que eu falei?? Ou será que escrevi algo que tem a ver com o post?" Mas ao mesmo tempo, eu penso, "bom, azar é do goleiro, afinal já escrevi mesmo." bom, no final a lição eh "Cada um no seu quadrado!". Cada um q faça e sinta o que eh melhor pra si. Eu não consigo ficar pra baixo muito tempo, qdo fico é que alguma coisa precisa ser feita.

Falando no Closer, esse mesmo diretor tem um filme excelente, mas muito sensacional mesmom que se chama "A primeira noite de um homem". La na casa da Paula tem esse filme, eu já vi umas 4 vezes, e o lance do filme é sobre a transformação do guri em homem, ou se preferir, a mudança que todos temos que fazer para sermos adultos. Superação dos pais, superação de moldes sociais, muitas superações. Hoje eu passo por esse tipo de coisa. Tardiamente ou não a adolescencia fica para traz e o mundo adulto bate a minha porta e o Mike Nichols - diretor do filme - soube tratar muito bem esses assunto.
Mais um coment bíblia!

Rafa disse...

Closer, que boa pedida... baita filme. Esse diálogo que o Cadu citou é muito bom.

Toda essa ambigüidade mostrada no filme – de querer e precisar da outra pessoa distante, mas logo depois não suportar a idéia do convívio a dois; não aceitar as diferenças, a dificuldade de lidar com a pessoa real, não a idealizada etc... parece se encaixar com a situação do texto da Martha. Outra cena legal que eu acho, é quando a Natalie Portman pergunta pro Jude Law, se ele vai trocar ela pelo fato da outra ser bem-sucedida. Aí ele responde que é porque a outra não precisa dele... É meio triste, mas existe. São pessoas sempre correndo atrás do vento.

E eu também não imagino a Martha Medeiros devorando dois pacotes de doritos, em frente a TV, esperando o amor da vida dela telefonar... mas se ela diz. Deve ser aquela coisa do Eu-lírico...

Julia disse...

Claro que eu tb não imagino a Martha Medeiros devorando dois pacotes de doritos, em frente a TV, esperando o amor da vida dela telefonar... O que ela escreveu foi sobre a amiga psicótica hahahaha

Gostei da repercussão do post. Esse assunto rende!

Rafa disse...

Pois é, rendeu mesmo o assunto...

E eu citei o lance do doritos pq tem num texto dela, tinham falado lá em cima sobre ela não viver o que escreve ou algo assim, etc. Nem sei se eu captei a direito a idéia. Mas não me interpretem mal, eu gosto da Martha. Inclusive eu tenho o livro “TOPLESS” ¬¬

=)