segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Todo carnaval tem seu fim - parte 2

Ela estava terminando um namoro longo. Ele surgiu no meio do processo, no olho do furacão. Se tornaram melhores amigos. Já se conheciam de algum tempo atrás, já haviam ficado juntos, mas estavam distantes há alguns anos. Uma linda amizade. Com direito a músicas, fotografias, declarações, filmes, festas, risadas, angústias, jantares: começaram a dividir tudo.

No turbilhão de sentimentos e carências que estava sentindo, aconteceu o que ela não queria: se apaixonou pelo seu melhor amigo.

Uma noite, depois de um bate-papo de bar, aconteceu. Eles se beijaram. O beijo, depois de anos desde aquele primeiro, nem pareceu tão bom assim – afinal, fazia dois anos que ela só beijava o (ex) namorado-perfeito, e mais ninguém. Mesmo assim, a paixão estava lá. O coração batendo acelerado.

Apesar disso, ela estava resistente: não estragaria a amizade por uma paixonite que estavam sentindo e que tinha tudo para ser passageira. Foi categórica: não vamos namorar e isso não vai mais acontecer.

Ficaram mais uma vez. Duas. Dez. Ela ainda insistia em não namorar e sempre jurava que não ia mais ceder à tentação. Ele, como qualquer ser do sexo masculino, cansou dessa indecisão. Passou a ficar com outras meninas. Não sem antes anunciar. Tudo bem, ela disse. Vai ser melhor assim. Mas sempre que surgia outra menina, o coração dela sangrava. E ela colocava um sorriso no rosto e mentia para ela mesma, achando que iria ser melhor assim, anyway.

E olha que ele nem era muito bonito... Ela, com qualquer saltinho, já ficava um mulherão ao lado dele. Mesmo assim, quando ele estava por perto, ela se sentia pequena, com um arrepio na nuca e um frio na barriga. Ela tinha uma família de pais certinhos. A dele era uma confusão só. Isso não importava: o coração dela saltava pela boca só de ouvir aquela voz. Ela, tradicionalíssima, tinha planos de só ter filhos depois de alguns anos de casamento. Na igreja, é claro. Ele, desencanado, já tinha um filho sem nunca ter casado. Fruto de uma noite só. Mas foi inevitável: ela se apaixonou também pela criança. E não via problema nenhum nisso.

As meninas iam e vinham da vida dele. Ele ainda insistia que só queria ela. E o coração dela ainda ficava arrasado sempre que ouvia falar em outra. Ficaram algumas vezes ainda, afinal, a atração falava mais alto.

Começaram a namorar.

Durou um ano e meio. Foi um namoro com paixão e amizade, pelo menos no início. Ela pensava: bem... não é o príncipe encantado que eu sonhava... mas é o amor da minha vida! Poucas eram as noites da semana em que não dormiam juntos... No meu apartamento ou no seu?

Com o tempo, aquela paciência de amigo foi se modificando. Estava feito o estrago que ela tanto temia: ele tinha se transformado em namorado. E só namorado.

Ela amava o filho dele. Ele passou a colocar empecilhos em tudo, dizendo que, no fundo, ela achava que ele ser pai atrapalhava. Ela negava. Ele não acreditava. Ela amava os bares da Cidade Baixa. Ele odiava, tinha preconceitos. Ela conhecia todos os amigos dele, saíam juntos sempre. Ele não fazia questão de sair com as amigas dela e não ia a nenhuma festa da faculdade que ela cursava. Ela foi percebendo que a afinidade não era tão grande, no fim das contas. Como amigo ele fazia tudo. Como namorado, tudo era problema. Ela passou a ser culpada de tudo. Ele pegou trânsito para chegar até a casa dela? Culpada. O restaurante que ela escolheu estava lotado? Culpada. O filme que ela sugeriu não era bom? Culpada. Ela começou a se ver pisando em ovos, medindo as palavras, porque agora ele se ofendia com qualquer frase mal interpretada. Para ela, sempre falante, isso era sinônimo de angústia.

E ela foi definhando. Devagarzinho, na frente dele. Ele parecia nem notar. Para piorar a situação, ela começou a ir mal nos trabalhos da faculdade. Mas ela tinha esperança: se ele já a ajudou quando eram amigos, também iria ajudá-la agora. Esperança vã. Ela passou a ficar deprimida. Não era mais aquela menina sorridente e feliz de sempre. Agora, ela chorava quando ele ia embora. Sabia que havia algo errado. Ela via o final antes mesmo que ele fosse anunciado oficialmente. Triste isso, de esperar o fim. Mas ela continuava tentando. Fazia tudo para agradar. Chorava sozinha, e não na frente dele, para não incomodá-lo. Não foi suficiente.

A gota d’água foi a coisa mais banal que poderia acontecer. Estavam chegando de viagem. Ele propõe: Vamos sair? Ela aceita: Vamos! Ela pede: Vamos passar em casa para trocar de roupa? Ele responde: Não... te deixo em casa e daqui a pouco te busco. Ela abaixa a cabeça e concorda, como sempre: Ok, dez minutinhos e estarei aqui em frente.

Mas aconteceu um imprevisto. O irmão dela também estava chegando de viagem. Ela pára para conversar com o irmão e a cunhada. Demora mais dez minutos. Ele não quer descer do carro para entrar em casa com ela. Quando ela volta, ele inicia uma discussão, afinal, quem ela pensa que é para deixá-lo esperando por intermináveis dez minutos? Ela tenta explicar. Não adianta. CULPADA! Estragou a noite. Ela fica atônita. Desce do carro e entra em casa. Para chorar, é claro. Ele alcançou o objetivo: vai sair sozinho.

No outro dia, como sempre, é ela quem sofre. Depois de um dia inteiro esperando um telefonema que não viria, ela não agüenta e liga para ele. Às quatro da tarde, depois de um dia inteiro de angústia, esperando por desculpas. Precisamos conversar. Ele concorda. Conversam. Ela coloca na mesa tudo o que estava sufocado. Ele não diz nada. Nem olha para ela. Ela faz a pergunta inevitável: se antes você se esforçava tanto para ficar comigo, o que mudou agora? E ouve a resposta mais mesquinha que poderia ser dita: é que antes era só a parte boa.

Ela entrou em depressão. Foi levada à terapia por uma amiga. Foi medicada. Foi curada, se conheceu, aprendeu, tirou lições. Continua se conhecendo até hoje. Sabe que é preciso paciência para aceitar qualquer fim. Sabe como superá-los. E sabe que todos os finais são tristes. Mas também sabe que alguns são mais do que outros.

12 comentários:

Carol disse...

triste final...mas, o importante é que ela sobreviveu!!!\o//

Ju disse...

foda viu....foda se ver preso numa situação em q ela começa a se anular e viver a vida de outra pessoa, basicamente...mas com certeza ela saiu mais linda,mais forte, mais madura de tudo isso! e viva as pedras do caminho!!

Julia disse...

Nada disso importa.
O que importa é que esse foi o post mais longo de toda a história do blog!!! hahahahahahaha

Eu quero um troféu! =P
E dou um doce pra quem conseguir ler até o fim! ;)

O Primo Distante disse...

Me da um troféu Julia!! E além de ler esse os atrasados e teci cometários longuíssimos a respeito dos posts. Vou ganhar o troféu insônia, isso sim!! Mas pelo menos as Lulus me ajudaram a descontrair e a parar de me revirar na cama. Sonhos de Lulu também é terapia!!
Fim de namoro é o lance mais chato do mundo. É punk para ambos. Rola mágoa, chateação, sentimentos ruins para todo lado. E de uma pessoa que você gosta. Isso o que torna mais difícil ainda. Mas temos que saber que do outro lado existe uma pessoa, com suas razões, seus pensamentos, e que algumas atitudes, por mais mesquinha que possa parecer, as vezes são tomadas por conta de medo, ou até mesmo covardia, no sentido de não querer arcar com a pressão. É difícil para todos se sentirem preteridos. Mas é uma coisa que infelizmente não temos como ter um poder sobre isso. Acho que qdo acaba, qualquer coisa é desculpa para terminar, tanto que invarialmente termina pelos motivos mais ridículos. A pessoa na real ja não tem força para sustentar a relação, já acha que não vale mais a pena.
Basicamente eh isso
Um grande bjo p minha Lulu Paula e vamos que vamos essa semana
Ei TFG, vai tomar no ...
(sorry pela grosseria)

O Primo Distante disse...

Ass.: Cadu, o cara insône, que escreve comentários bíblia e realmente gosta de discutir a relação.

Julia disse...

Adoro comentários longos!!!
Amei todos, de todos os posts!!!
Vou dizer pra Paula te dar um troféu! hahahaha

Paula disse...

Pra mim tem uma coisa que é bastante importante quando se trata de final de relacionamento:
a gente sofre e tudo... mas por mais que eu ame a pessoa eu não gostaria de estar com ela sabendo que ela não me ama mais.
Depois explico melhor.
O meu post sobre isso vem mais além, pq como vocês sabem, tfg até terça... blablabla...

Deni disse...

Ju, impossível não ler até o fim. Mesmo conhecendo a história e a protagonista, o texto tá tão expressivo que me apertava o coração a cada linha. Queria descobrir qual é a mágica que faz um "título" (nesse caso, namorado) trazer consigo tanto peso, pra algumas pessoas. Era pra ser ainda mais bonito que amizade, era pra ser mais encantado. Mas tem gente que acaba tendo a visão distorcida. Sei lá, mistérios da vida. Meu post sobre o assunto também virá em breve. Enquanto isso, vou ali desapertar o coração e já volto.

Paula disse...

bah... concordo muito contigo, Dê.

Rafa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafa disse...

Eu vou querer meu doce tb, depois te mando o endereço por depoimento... hehe

E já falaram tudo aí em cima, é muito chato mesmo. Eu fico bem mal no dia, ou no dia seguinte etc... aí aos poucos eu melhoro. O pior do fim do namoro às vezes é que ele também representa o fim de uma grande amizade: é uma amiga especial que parte, uma pessoa com quem tu compartilhou momentos únicos, felizes; até das brigas tu sente falta. E as pessoas, claro, se afastam porque isso é necessário pra esquecer uma da outra e seguir a vida. O pior é quando termina com rancor ou alguma das partes com o orgulho ferido, aí o que já era ruim ganha uma pitada extra de drama – a caixa de pandora foi aberta e as coisas nunca mais vão ser as mesmas entre os dois.

Então, tem casos e casos né. Tem gente que sai junto com ex-namoradas (os), outros são amigos íntimos, outros são amigos distantes, outros não suportam ver a cara da (o) fulana (o), outros não querem ver pq tem medo de recaídas etc etc etc...

O que parece ser consenso é que com o passar do tempo a poeira vai baixando e tudo volta ao normal, ou quase isso. Tudo se supera, mesmo quando a gente não compreende a decisão do outro ou a nossa própria. O que importa são as boas memórias que ficam conosco do que se passou. Como sabiamente diz a velhinha jamaicana de “Encontro Marcado” com seu inglês tatibitati:

“ It nice it happen to you. Like you come to the island and had a holiday. Sun didn't burn you red-red, just brown. You sleep and no mosquito eat you. But the truth is, it bound to happen if you stay long enough. So take that nice picture you got in your head home with you, but don't be fooled. We lonely here mostly too. If we lucky, maybe, we got some nice pictures to take with us.“

Newton da Silva Jacuniak disse...

Pra esse post achei um termo que resume o que senti, mas por questões morais e de educação vou abreviar:

F.D.P.

Sério, isso não tem a ver com fim de relacionamento! Tem a ver com filhadaputice mesmo (desculpe, mas é esse o termo exato e científico pra isso)!
A pessoa que trata outra dessa forma tem que ter sérios problemas psicológicos, é difícil pra mim acreditar na existência de uma situação dessas...

Mas enfim, coisas que nos diferenciam são coisas que nos afetam a ponto de nos fazer crescer.