O Bom Exemplo
O dia das Mães sempre foi marcado para mim por aquelas figuras inalcançáveis, que aparecem no cinema, que nunca estão erradas, cansadas ou deseperadas. Mãe sempre tem respostas para tudo! São seres perfeitos e estão sempre sorrindo!
Por ter idealizado tanto essa figura, foi muito difícil achar a hora certa para me tornar uma…
A idade chegou, o casamento também e a vontade de ter um filho me invadiu. Mesmo não me sentindo pronta, eu queria muito e já amava a ideia de ter um filhotinho para cuidar e guiar os passos.
Depois dos exames de rotina veio o ok da médica para começarem as tentativas, já que depois dos 30 poderia demorar um pouco. Voltei ao consultório 15 dias depois com o teste de gravidez positivo! Foi muito rápido, não tive tempo de pensar e a sementinha já estava crescendo na minha barriga. Um amor absurdo, nunca antes sentido, muito maior do que o conceito que eu tinha de amor até então.
Pois esse amor foi o que me fez entender que, mesmo sendo atrapalhada, cheia de defeitos, muitas vezes errada, cansada e desesperada… mesmo assim, ainda poderia ser mãe, ser a base, a segurança e a referência de um ser humano, que aprenderia comigo todos os dias e eu com ele.
Esse ano, antes do almoço de Dia das Mães, como todo bom brasileiro, passamos no Supermercado para comprar umas coisinhas que faltaram… O fato é que todas as pessoas da cidade pareciam ter tido a mesma ideia e, na hora de passar no caixa, não tinha como escapar da fila. O jeito foi deixar o marido ali e sair para caminhar com o filhote, que ficou admirado em frente à uma TV enorme em que passava um desenho colorido. Enquanto aguardávamos, um Senhor bem apresentado parou seu carrinho cheio de compras no caixa para eletrodomésticos e, ao ser avisado de que não poderia pagar por suas compras ali, mostrou documentos dando órdens para que a pessoa o atendesse mesmo assim. O gerente foi chamado, também recebeu o “carteiraço” e, mesmo constrangido, disse ao senhor o que a menina do caixa já havia dito. O Senhor, ignorando o que as pessoas falavam, deixou seu carrinho ali e foi ao gerente geral, que acatou sua ordem e ainda escalou funcionários para irem auxiliando sua esposa a trazer ainda mais itens ao carrinho “estacionado” em frente ao caixa de eletrodomésticos.
Meu filho, alheio à tudo o que estava acontecendo, permanecia vendo seu desenho na TV. Mas eu fui tomada por um sentimento de repulsa. Ficar vendo uma equipe trazendo compras para aquele caixa, atendendo ordens de alguém que se acha mais importante do que todas as outras pessoas? Não… Esse tipo de postura é uma das coisas que mais repudio no mundo. Então decidi sair dali. Antes que eu pensasse em avisar todos que estavam nas filas, que o caixa de eletrodomésticos estava aberto para compras comuns... Peguei a mão do meu filho e saímos caminhando para encontrar o Papai dele, que estava aguardando sua vez numa fila quilométrica, como todos reles mortais que não possuem sobrenome importante.
Para minha surpresa, no nosso caminho estava o tal Senhor “importante”, em pé, de braços cruzados, contemplando a paisagem. Ele nos viu passar, sem ter ideia do que tínhamos testemunhado há alguns minutos. Sorriu para o Bernardo e esticou a mão na direção dele. Um gesto que muitas pessoas fazem com crianças. Mas aquilo foi demais, ultrapassou todos os meus limites de omissão. Resolvi sair de perto para não testemunhar o ato de egoísmo e a pessoa resolve fazer gracinha com o meu filho!!! Adeus, zona de conforto!!
Me aproximei e falei: todos os dias eu educo o meu filho, para que ele nunca seja como o Senhor.
Talvez ele não tenha nem entendido a profundidade do que eu disse, já que fez uma cara de susto e saiu caminhando. Talvez hoje já nem lembre mais. Além disso, uma pessoa tão importante não muda conceitos profundos com uma frase de uma desconhecida. Ele pode ter tido uma família cheia de recursos financeiros, mas certamente não teve os bons exemplos que eu tive.
O fato é que eu entendi muita coisa. Pensei na sorte do Bernardo em não ter pais como os desse senhor. E tive a certeza de que estou pronta para ser a mãe do Bernardo. Não uma mãe perfeita, mas a mãe que ele tem… Alguém real, com seus defeitos e muita vontade de ser uma pessoa melhor todos os dias, para que ele tenha sempre um bom exemplo a seguir.