sábado, 10 de março de 2012

LIBERDADE DE EXPRESSÃO SIM, DESDE QUE NÃO FALEM DE MIM


Como é de praxe, de tempos em tempos rola uma super discussão no facebook sobre um assunto da atualidade. Já se discutiu sobre o Lula e o SUS, Geisy Arruda e o vestidinho rosa e, vamos lá, Michel Teló e a fama internacional.
A bola da vez é o artigo do J.J. Camargo, publicado hoje no caderno Vida, da Zero Hora, sobre tatuagens. Vi o artigo pela manhã, na casa dos meus pais. Li e achei meio xarope o que o cara disse. Não concordei muito, achei meio coisa de véio cabeçudo, sabe como? Mas foi isso. Não me senti mal só porque o cara pensa que os tatuados são fracos da cabeça. Tá, mentira. Até fiz um beicinho de “ai, essa doeu”, mas logo me dei conta de que, ora bolas, eu me gosto muito com minhas tatuagens, amo todas elas e, além disso, aquele texto não era sobre mim. Era só uma opinião generalizada, meio infeliz, de um senhor quadradão. E deu. Logo esqueci do assunto e fui, tipo assim, seguir a minha vida.
Só que depois do almoço, resolvi acessar o Facebook e me deparei com uma enxurrada de críticas inflamadas! Gente de todo lado querendo o fígado do colunista por causa do tal artigo; querendo a sua expulsão da ZH. E uns tipos que queriam que o cara fosse preso e julgado por espalhar o preconceito. Ahahahaha (ops, desculpa, não deu pra segurar).
E aí eu fiz uma coisa que eu evito a todo custo, sempre, sempre, eu juro que evito, mas fiz: entrei numa discussão. Discussão no Facebook. Sim. Lá fui eu, com toda a minha educação que papai e mamãe me deram, e, pra começar, disse assim, toda meiga: Ah, deixa o véio. Foi meio preconceituoso mesmo, mas é a opinião dele. Um artigo de opinião. Bem, assim, sem argumentar muito, porque né? ... MEDO.
Bastou para que os tatuados politicamente corretos (sim, eles existem! descobri hoje) arrancarem os cabelos e bradarem aos quatro ventos o quanto isso é absurdo. E o quanto eu não sei a diferença entre preconceito e liberdade de expressão, porque né, eu devo ser muito ignorante. E que o autor deveria ser severamente punido. Resumindo: depois da minha primeira declaração, postei sobre minha opinião mais duas vezes no fórum e depois desisti. Ninguém mais conversa, nem ouve, nem lê. Hoje todos só querem ter razão.
Mas para vocês terem noção: teve gente que ficou tão ofendida com o artigo, que cogita processar a ZH e o autor; teve gente que argumentou que é por isso que o Brasil não vai pra frente (é sério); que os formadores de opinião não podem, em hipótese alguma, se valer de termos ofensivos ou descorteses.
Pois eu, que sou um pouco tatuadinha e que não concordo com o que o colunista disse;  eu, aqui do canto da minha humilde casa virtual, que é meu blog, com 5 anos online e com meia dúzia de leitores assíduos, vos digo: isso seria CENSURA das mais deslavadas. 
Se chegar o dia em que alguém só puder escrever um texto com a premissa de que ele agrade a gregos e troianos, eu paro de ler. Porque não tem nada mais sem graça do que ler algo e nem poder dizer que discorda ou concorda, simples assim,  pois o texto que não fede nem cheira. Nem dá vontade de comentar.
Afinal, qual a graça na unanimidade?
Se o cara foi lá e disse que acha repulsivo um corpo coberto de tatuagens ou que acha que pessoas tatuadas tem auto estima baixa, ele merece ser censurado por isso? Na minha opinião, não! Ele sabia onde estava pisando e escreveu para ser polêmico mesmo. Pra gente como eu e como todo mundo que leu discordar, ou concordar, e se manifestar – ou não também. Isso que é demais!
Mas não, os policamente corretos dizem que, por ser um formador de opinião, o cara deveria ter um filtro, para evitar disseminar um preconceito. Pois aí eu discordo. E nem me venham falar de negros, mulheres, homossexuais, etc. A esfera é outra. 
Nesse caso, quando temos a oportunidade de contato com esse tipo de texto, podemos treinar o nosso discernimento. Ou vai dizer que tu leu o texto e, automaticamente, já saiu achando que tatuado é um Maria Vai Com As Outras Depressivo? E se a resposta for sim, o problema não é o artigo. O problema é mais embaixo!
Não podemos eliminar o que não gostamos de ouvir ou ler. Precisamos lidar com isso, lidar com pensamentos diferentes dos nossos (às vezes mais limitados e ignorantes do que os nossos, por que não?) ler mais, ler de tudo, para aumentar nosso poder de argumentação. Ler o texto do cara e ficar puto sim e, com isso, com essa raiva, ter energia, ter tesão para defender o teu ponto de vista. Isso que é legal. E não sair atrás de advogado cada vez que alguém cruza a linha do politicamente correto. Vamos lá, pessoal.
E dizer que o País não vai pra frente por causa desse tipo de texto, pra mim, é forçar de mais a barra.          




9 comentários:

Marcelo disse...

Concordo, viva a liberdade de opinião e as polêmicas que se tornam construtivas!
Criticar e discutir são direitos incontestáveis, ele realmente forçou a barra, mas tem gente forçando muito mais querendo censurar pontos de vista...

Magno disse...

Eu quase tomei tuas dores, mas seria completamente linchado e desrespeitado por pessoas de QI questionável, me estressaria por nada discutindo com pessoas mentalmente instáveis e incapazes de rebater argumentos de forma inteligível.

Paula disse...

Oi, Magno. Valeu pelo coment!
O que eu acho é que tu poderia ter colocado a tua opinião na discussão, sem grandes medos, sabe? Não sei quem tu é, mas seria legal. Até pra mostrar que tem mais pessoas que pensam diferente. E nisso não há mal algum.
E quanto ao linchamento virtual (hehe), tu não deveria te preocupar tanto. A discussão, pelo menos aquela, não renderia tanto. Ninguém vai mudar de opinião, né? Nem eu e nem elas. E essas pessoas só iam ficar curtindo os seus próprios comentários, como se estes contivessem a grande verdade universal.
Só acho que o importante é se manifestar, pois assim demonstramos que não existe unanimidade sobre o assunto e que, por isso, deve ser debatido, questionado. Eu mesma me questionei depois de alguns argumentos lá colocados, juro.
Mas ainda assim, mantive minha opinião.
Eu realmente acho que o pessoal se ofendeu além da conta. O texto era um artigo de opinião que tratava, entre outras coisas, sobre a banalização da tatuagem. E é isso. Não vejo grandes problemas no que o colunista escreveu.
Mas essa é minha opinião. E espero não ser linchada por isso. Né??? haha

Paula disse...

Quero dizer, não vejo tanto mal o cara expor sua opinião, mesmo não concordando com ele.

Julia disse...

"censura é uma coisa horrível, quando é comigo - seus reacionários! se eu não gostei de alguma coisa e quero tirar de circulação eu só estou protegendo as pessoas do preconceito alheio, é diferente." essa é a lógica dos "gênios" soltos pela web.

Magno disse...

Pois é, Paula... Concordo que é importante se manifestar, é que eu sou como tu, no que diz respeito a discussões no facebook, prefiro evitar. E pelo teor de alguns dos replys completamente desproporcionais e hostis que tu recebeu, vi que não tinha futuro, não naquele espaço. Tu disse praticamente tudo que eu diria sobre a questão. A Dani postou coisas interessantes também. Mas uma coisa que me irrita muito é gente que não consegue interpretar, e/ou já vem com 20 pedras na mão pra atirar em quem não concorda totalmente com ela. Muitos dos que se doeram demais, acho que foi porque “acusaram o golpe” do lance da auto-estima. O resto, como tu disse, seguiu a vida.

Paula disse...

Ah, sim. Te entendi!
Na verdade eu tento manter essa postura também, mas dessa vez não me aguentei. Aí acho que como o circo já tava armado, pensei que alguém poderia só mostrar que não é bem assim, junto comigo. hehe
Mas realmente, no tom que tava o negócio, não ia adiantar muito mesmo.

Anônimo disse...

Gente que "tem" razão o tempo todo é um saco!
Eu já não tenho paciência pra entrar em discussão com alguém que não está aberto a ouvir. Aí não é diálogo, mas monólogo.

Bjos saudosos
Mariana

The Drunken Scientist disse...

Tem umas coisas que eu noto que só regridem.
Pega filmes, jogos e seriados da década de 90 e tu vai encontrar em boa parte alguma alfinetada que te faça pensar, alguma ironia pra escancarar um absurdo, algum humor negro que, se o sujeito for minimamente pensante, vai refletir do que acabou de rir.
Mas hoje em dia nãããao! Hoje em dia "dezolivre" lançar algo que não seja bobinho, oco e inócuo. Vai que ofende, né? Vai que alguém reflete, né? Bom mesmo é termos de prontidão esses Cruzados dos bons costumes que nos protegem de tudo que é "errado" no mundo!
E viva este nosso mundo onde não se precisa pensar! Onde não se pode pensar! Onde é crime pensar! (crimideia, né?)