sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

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Já tinha ficado difícil. Meu velho vicio de sonhar, difícil abandonar. Talvez internação em clínica especial para recuperação de amantes seja a solução possível. É que o invisível que pagamos pra ver é tão astuto, que nos engana sempre… Ou nós mesmos, preferimos enganarmo-nos só pela inebriante sensação do abismo que é pensar e sentir (Amarante, denovo).
Esses precipícios…
Fim de contas e aí está: por mais que seja uma pena chorar e que ser algum mereça tal penar, buscamos essa dor. Porque ela nos compõe. Aquela criatura ingrata não é digna desta dor, mas bem que serve pras nossas idiossincrasias amorosas: poéticas, dramáticas, musicais e até cômicas (por quê não?). Fato é que por mais que o indivíduo não valha porcaria nenhuma, você se deleita numa dor prazerosa e vã, regozija-se na possibilidade do choro compulsivo, orgulha-se das rimas pobres que fez maldizendo aquele que te desiludiu.
Marisa Monte nos levou ao delírio cantando as desventuras amorosas: “Amargura em minha boca, sorri seus dentes de chumbo… Desilusão, desilusão…”
E a Maria Rita então? Milhares de adeptas da dor de cotovelo crônica e dilacerante, cantada e chorada aos prantos: “É uma pena, mas você não vale à pena… não vale uma pitada dessa dor, não cabe como rima de poema de tão pequeno…”
Mentira.
E verdade. Porque diante dessa dor imensa, ardida e bela, cheia de lirismo, qualquer mortal fica pequeno, desnecessário e vira mero coadjuvante.
Inclusive a autora.


Contribuição do leitor
Texto de Taiana Pitrez Tagliani

3 comentários:

Julia disse...

É a famosa síndrome de Romeu e Julieta: a gente adora um sofrimento romântico... ô raça!Mas isso não quer dizer que o sofrimento, os sentimentos e tudo o que acompanha o nosso drama não seja sincero. É só um desperdício do nosso tempo e da nossa energia. Mas é sincero.

Deni disse...

Tai, Taaai!
Lindo!a verdade, acho que somos viciados nesse tipo de emoção. Às vezes, mesmo agindo inconscientemente, acho que a gente chega a perseguir isso, esse drama, porque o sentimento nos parece tão mais legítimo quando há um sofrimento do que quando acontece tudo de um jeito pacato e linear. Não fosse isso, me parece que nunca insistiríamos em renegar nosso sexto sentido. Sim, porque no fundo, a gente SABE quando um barco tem tudo pra afundar...

Tai disse...

Sabe... eu acho até uma coisa bem legal. Porque essas fases trazem consigo uma capacidade criativa enorme, e um baita passo na reconstrução e na construção do nosso "ser amante". E por mais que seja exagerada às vezes, é necessária pra afogar de vez. Superdimensionamos pra dar mais sentido pra essas coisas. "No pain, no gain." ;)
Brigada pelo espaço, Lulus! Adorei!