sexta-feira, 23 de abril de 2010

Série sem nome

3º Capítulo

Desci correndo as escadas e, no hall, dei de cara com o casal Herbalife, que voltava da sua corrida matinal.
- Bom dia, gente.
- Bom dia, Luíza. Está atrasada de novo?
Eu sempre tenho a impressão de que a Maria Regina está me alfinetando.

Perdi o ônibus. Sei disso porque todo o povo que pega o mesmo ônibus que eu não estava mais lá. A parada estava vazia. Pelo menos vou pegar o ônibus mais vazio. E vou sentada, pensei.
- Ô, minha fiiilha. Se atrasou, foi?
Olhei para o lado e vi a Dona Zuleica e o Freeman, na sua coleira azul frufru com strass.
- Dona Zuleica, o que a senhora faz aqui tão cedo?
- Cedo??? São vinte para as nove! Sabe a que horas eu me levanto? Às sete, todos os dias. Inclusive aos domingos. Desde que o Oswaldo se foi, eu tenho levantado mais cedo para preparar meu suco de mamão. Ele sempre levantava mais cedo para preparar o suco para mim.
- Mas a senhora precisa tomar o suco às sete da manhã?
- É, minha filha. Talvez você não entenda o que isso significa. Você é muito nova.
Me senti constrangida. Por que eu estou questionando os hábitos de uma velhinha? Ela interrompeu meus pensamentos.
- Além do mais, o Freeman faz as suas necessidades logo que acorda. E ele acorda cedo como eu, sabe?
- Sim. E a senhora precisa levá-lo para passear também.
- Preciso. E gosto muito. Não é um sacrifício para mim.
- Sim, a senhora é como eu. Adora animais!
- Adoro! E além disso, nada melhor do que uma caminhada respirando o ar puro da manhã para ter um bom dia. Você não acha?
Eu fiquei muda, olhando pra Dona Zuleica. Caminhada? Ar puro da manhã? Faz tempo que não sei o que é isso. Eu pulo da cama diretamente para o assento do ônibus. Sempre com pressa.
- Você parece abatida, filha. Está tudo bem?
- Ah, está sim. Tudo bem.
- No meio da tarde, estarei com um bolo de laranja saindo do forno. Minha amiga, a Verinha, vai ali em casa me visitar. Quando você chegar, passe lá para comer um pedaço do bolo, está bem?
- Obrigada! Eu vou, sim. Lá vem o meu ônibus. Tchau Dona Zuleica.
- Vai com Deus, minha filha. Vamos Freeman.
- AU!

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