terça-feira, 6 de abril de 2010

Série sem nome

1º Capítulo
Segunda-feira. O despertador tocou às 07:40 da manhã. Abri os olhos e enxerguei o teto branco do meu quarto. Virei o rosto para a esquerda e fiquei observando aquela velha mancha de bolor na parede– o desenho que ela formava lembrava um coelho -, resultado de uma infiltração no apartamento de cima. Droga, pensei. No lado direito, uma faixa de luz do sol entrava pelas frestas da cortina - que eu mal tinha fechado na noite anterior - e batia diretamente no meu rosto. Ah. A luz do sol àquela hora da manhã era quase um insulto. Ela me obrigava a ver que o tempo não parava para que eu pudesse me recuperar. Você não tem direito ao botão de pause para arrumar a sua cabeça e a sua vida, ela parecia cantarolar, irônica. O seu tempo é o que você tem. E só. Suspirei concordando com ela. Abri e fechei os olhos e senti as pálpebras inchadas e doloridas, de tanto chorar madrugada a dentro. Ah. Como eu queria não levantar... 
Mas como a vida não dá moleza, respirei fundo e ergui o corpo com aquela falta de força comum dos últimos dois dias. Calcei os chinelos que estavam jogados perto da cama e fui me arrastando até o banheiro, onde pude ver no espelho o estrago que é capaz de fazer uma noite mal dormida. Meus olhos estavam tão inchados que eu mal podia mante-los abertos. Meu rosto estava pálido, tão pálido que destacava ainda mais as insistentes olheiras azuladas e a espinha de tpm que não ia embora do meu queixo.
O cabelo oleoso então, nem merecia meus comentários.
Olhei minhas mãos e descasquei o resto de esmalte que ainda restavam nas unhas. Nesse momento, minha cólica menstrual começava a dar as caras. E, só para melhorar a situação, senti aquela tontura típica de quem não dorme há tempo.
Tirei meu camisetão, meu companheiro inseparável dos últimos dias, amassei bem amassado e joguei no cesto já saturado de roupas sujas. Hoje vou lavar tudo, pensei. Assim que fiquei pelada, me olhei de perfil no espelho e acusei minha barriga de ser a causadora de todos os meus problemas. Se eu não tivesse essa barriga, tudo seria mais fácil!
 Entrei no Box. Abri a torneira e deixei escorrer a água quente pelo corpo por um, dois minutos e fiquei ali, imóvel e imersa em pensamentos. Como eu pude ser tão burra, meu deus? Como não vi as coisas que estavam escancaradas bem na frente do meu nariz?
Acordei do transe e lavei os cabelos duas vezes com xampu, pra tirar toda a oleosidade possível. A mesma regra usei para o rosto e corpo. Muito sabonete. Queria que aquela camada de óleo, que representava meus últimos dois dias, fosse embora, ralo abaixo.
Depois do banho, saí pelo corredor, enrolada na toalha, quando tropecei em algo peludo, que logo imaginei ser o meu gato, o Bola, um bichano vira-lata, de pelo amarelo, gordo e felpudo, que resgatei da rua quando era apenas um filhote, há dois anos atrás. Me estatelei no chão. Quando olhei para os meus pés, vi o gato sair em disparada e se esconder atrás do sofá. Assisti aquilo tudo e logo me veio mais um pensamento dramático: quando algo dá errado, nunca dá errado sozinho. Parece que as coisas em que você toca pegam carona na energia ruim e todas estragam ao mesmo tempo. Vai me dizer que não? Pobre Bola.
Enfiei uma camiseta limpa, enrolei a toalha no cabelo molhado e fui para a cozinha preparar um café. 
Café preto, puro e bem forte. 
Meu nome é Luiza e assim começou o meu terceiro dia de FOSSA.


6 comentários:

Helena disse...

coelho, tempo correndo = Alice no País da Maravilhas

ditavonclaire disse...

e assim nasce uma contista.

Ju disse...

acho que tu ta na profissão errada :P

Paula disse...

uh, obrigada, obrigada. haha

não sou escritora, mas vou tentar contar a história direitinho.

Carol disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol disse...

acho que tu tá na profissão errada [2]

Finalmente deu tempo de aparecer por aqui e ler os últimos posts!
Ainda bem que consegui porque valeu a pena! Já estou louca pra saber o que vai acontecer com a Luiza!